Quando me mudei para um apartamento na Avenida Silviano Brandão, região leste de Belo Horizonte, não imaginava que as cortinas e persianas se tornariam um capítulo tão importante da minha adaptação ao novo lar. Como advogada de 40 anos, habituada a resolver problemas complexos no tribunal, subestimei completamente o desafio que seria encontrar a solução perfeita para as janelas do meu apartamento naquela avenida movimentada.

A Silviano Brandão não é para amadores. Quem conhece BH sabe que se trata de uma das principais artérias da cidade, conectando vários bairros da região leste ao Centro. Isso significava barulho constante, luminosidade intensa nas manhãs e, principalmente, poeira – muita poeira. Características que só percebi depois de passar a primeira semana no apartamento com cortinas provisórias que não bloqueavam luz nem som.

Lembro do primeiro despertar ali, com o sol invadindo impiedosamente o quarto às 5h30 da manhã. “É só comprar uma cortina blackout”, pensei, com a simplicidade de quem acredita que resolver questões domésticas é mais fácil que elaborar um recurso judicial. Mal sabia eu que estava prestes a embarcar numa verdadeira odisseia.

As Peculiaridades da Silviano Brandão e a Busca pela Cortina Ideal

A primeira loja que visitei ficava no Bairro Santa Tereza, próximo à avenida. O vendedor, um senhor experiente com sotaque típico mineiro, ouviu atentamente minha situação antes de sentenciar: “Moça, morar na Silviano não é pros fracos, não. Cê vai precisar de algo especial.”

Ele não estava exagerando. A peculiaridade daquela avenida tradicional de BH é que ela combina prédios antigos com construções modernas, comércio intenso com áreas residenciais. Meu apartamento, em especial, ficava numa curva da avenida onde os faróis dos carros, à noite, criavam um verdadeiro show de luzes indesejado na minha sala.

Depois de visitar várias lojas pela cidade, decidi por uma solução dupla: persianas rolô blackout para os quartos e, para a sala com vista para a movimentada avenida, cortinas mais encorpadas com forro acústico. A escolha do tecido foi outro capítulo à parte – queria algo que filtrasse a inevitável poeira da Silviano Brandão sem parecer pesado demais.

Optei por um tecido tecnológico, desses que prometem repelir poeira e umidade, em tom cinza-azulado que combinava com o pôr do sol que se formava por trás dos prédios da avenida. A textura era levemente acetinada, criando um bonito jogo de luz quando a claridade da tarde entrava filtrada pela janela.

Do Caos à Harmonia: A Transformação do Ambiente

A instalação foi um show à parte. O profissional, indicado por uma colega que também morava nas redondezas da Silviano Brandão, chegou conhecendo bem os desafios da região. “Aqui na avenida, a gente instala diferente por causa da vibração dos ônibus”, explicou, enquanto reforçava os suportes das persianas. Esse conhecimento local fez toda diferença.

O resultado superou minhas expectativas. O quarto, que antes parecia uma extensão da movimentada avenida, transformou-se num refúgio silencioso. A persiana blackout bloqueava não apenas a luz matinal, mas criava uma barreira surpreendentemente eficaz contra o barulho do trânsito intenso da Silviano.

Na sala, as cortinas acústicas amenizaram consideravelmente o som constante de motores e buzinas. O tecido balança suavemente quando ônibus maiores passam – um lembrete gentil da energia urbana lá fora, mas sem a invasão sonora de antes.

Uma descoberta interessante foi como as cortinas mudaram minha percepção dos sons da avenida. O barulho que antes me incomodava passou a fazer parte da paisagem sonora do lar, filtrado pelos tecidos que escolhi com tanto cuidado. Assim como nos processos que analiso no escritório, aprendi que nem sempre podemos eliminar completamente um “problema” – às vezes, a solução está em ressignificá-lo.

A poeira da Silviano Brandão, famosa entre os moradores da região, continua sendo um desafio. Mas o tecido tecnológico facilita enormemente a limpeza – uma sacudida leve e a maior parte se desprende facilmente. Para uma advogada com pouco tempo livre como eu, essa praticidade faz toda diferença.

Os vizinhos do prédio, muitos deles antigos moradores da Silviano Brandão, notaram a mudança e começaram a pedir referências. Uma senhora que mora há 30 anos na avenida confessou que nunca tinha pensado em cortinas acústicas, apesar de reclamar do barulho desde sempre. “A gente se acostuma, né?”, ela disse, com aquela resignação típica mineira que agora eu entendo não ser necessária.

Com o passar das estações, percebi como as cortinas dialogam de forma diferente com a avenida. No verão, quando as chuvas intensas de BH transformam a Silviano Brandão num pequeno rio em questão de minutos, o tecido das cortinas ganha um brilho diferente, refletindo o cinza do céu carregado. Já na seca, filtram a poeira avermelhada característica de Minas, criando um ambiente quase etéreo quando o sol da tarde atravessa o tecido.

Meus pais, quando vieram me visitar, ficaram impressionados com a tranquilidade do apartamento em plena avenida movimentada. Minha mãe, sempre prática, questionou se o investimento havia valido a pena. Bastou uma noite bem dormida para que ela entendesse perfeitamente.

Os encontros com amigas ganharam um novo cenário. A vista da Silviano Brandão à noite, com suas luzes e movimento constante, filtrada pelas cortinas que escolhi com tanto cuidado, cria um pano de fundo urbano e aconchegante para nossas conversas. Uma delas brincou que parecia cenário de filme – “Uma advogada em BH”, ela sugeriu como título, rindo.

O som do tecido balançando suavemente com o vento que ocasionalmente entra pelas frestas se tornou parte da trilha sonora do apartamento. Harmoniza-se com o burburinho distante da avenida, criando uma experiência sensorial que nunca imaginei valorizar tanto.

Às vezes, no final da tarde, quando a luz dourada característica de BH entra pelas janelas e atravessa o tecido das cortinas, formando padrões no chão da sala, paro alguns minutos para observar. É um momento de pausa na correria do dia, um pequeno ritual que me conecta com o pulsar da cidade através daquele filtro especial que escolhi.

É curioso como algo aparentemente simples como cortinas e persianas pode transformar completamente nossa relação com um lugar. A Silviano Brandão continua sendo a mesma avenida movimentada e barulhenta de antes, mas minha experiência dela é completamente diferente agora.

Para quem está pensando em se mudar para essa região tradicional de BH, vai uma dica de quem aprendeu na prática: invista em boas cortinas e persianas. Pesquise, visite lojas especializadas, converse com moradores antigos da avenida. Os desafios são específicos e as soluções precisam ser personalizadas.

A jornada com as cortinas e persianas na Silviano Brandão me ensinou algo que levo para minha prática como advogada: às vezes, a solução não está em mudar completamente o cenário, mas em encontrar os filtros certos para interagir com ele. Uma lição valiosa que carrego comigo enquanto observo, através das cortinas cuidadosamente escolhidas, o eterno movimento da avenida que agora chamo de lar.