
Quando assumimos o projeto de renovação do nosso escritório com mais de 2.000 metros quadrados em Belo Horizonte, jamais imaginei que passaria semanas inteiras obcecada com… persianas. Eu, uma executiva de 40 anos acostumada a lidar com números, contratos e pessoas, me vi de repente mergulhada num universo de mecanismos, tecidos técnicos e conceitos de luminosidade que nunca tinha explorado antes.
Nosso escritório ocupava cinco andares de um prédio comercial na região da Savassi, com vista panorâmica da cidade. Linda vista, mas um pesadelo de controle de luz. As fachadas envidraçadas que pareciam tão modernas e impressionantes estavam transformando nosso ambiente de trabalho em algo entre uma estufa tropical e uma sala de interrogatório com reflexos nas telas de computador.
Funcionários reclamando de dor de cabeça, produtividade caindo nas áreas com incidência direta de sol, salas de reunião onde não conseguíamos enxergar direito as apresentações… Tinha que dar um jeito, e rápido. Mas como escolher o tipo certo de persianas para um espaço tão grande e com necessidades tão diversas?
A Descoberta de um Mundo Além das Persianas Comuns
Comecei pesquisando opções, e logo percebi que persianas para ambientes corporativos são um universo à parte. Não estamos falando daquelas venezianas simples que temos em casa. Era um mundo de termos técnicos: persianas rolô, celulares, verticais, horizontais, screen, blackout, double vision, com controle de acionamento por corrente, motorizado, automatizado, sensores de luz…
Minha primeira visita foi a um showroom especializado em soluções para escritórios. Uma consultora de vendas perguntou coisas que nunca tinha considerado: “Vocês têm servidores ou equipamentos sensíveis à luz? Algum setor trabalha com design gráfico ou edição de vídeo? Têm salas voltadas para o leste e para o oeste? Quais são os horários de pico de uso de cada espaço?”
Percebi que a escolha de persianas ia muito além da estética. Era uma questão técnica que impactava diretamente a funcionalidade dos espaços, o bem-estar das pessoas e até o consumo energético do prédio.
Resolvi montar um comitê interno com representantes de cada departamento. Tinha gente de TI, marketing, atendimento, financeiro… Cada um com necessidades específicas. O pessoal de marketing queria luz natural para fotografar produtos ocasionalmente. O pessoal de TI precisava controlar reflexos nas múltiplas telas. O departamento jurídico queria privacidade visual em determinados horários.
Depois de muitas reuniões (e algumas discussões acaloradas), decidimos por um sistema misto, atendendo às particularidades de cada área. Mas ainda faltava escolher entre dezenas de opções técnicas, cores e fornecedores.
Entre Mecanismos e Tecidos: A Ciência das Persianas Corporativas
Nosso arquiteto sugeriu contratar uma consultoria especializada em luminotécnica, e foi a melhor decisão que tomamos. O consultor fez medições da incidência solar ao longo do dia em diferentes estações do ano. Criou um mapa de calor mostrando as áreas mais críticas. Trouxe amostras de tecidos com diferentes coeficientes de filtragem UV e bloqueio térmico.
Fascinante como existem tecidos tão técnicos! Alguns bloqueiam até 98% do calor solar sem impedir a visão externa. Outros filtram a luz sem escurecer o ambiente. Há opções antibacterianas, antichamas, composições que reduzem reflexos em telas…
Para as áreas operacionais onde vários funcionários compartilhavam o mesmo espaço, optamos por persianas rolô com tecido screen 5% – aquele que permite ver de dentro para fora, mas não de fora para dentro, criando privacidade sem bloquear totalmente a luz natural. Em tom cinza-prata que complementava nossa identidade visual e ainda reduzia reflexos.
Nas salas de reunião, instalamos persianas double vision – aquele modelo com faixas alternadas translúcidas e opacas que permite ajustar a visibilidade conforme a necessidade. Durante apresentações, podíamos ajustar para maior bloqueio de luz; em reuniões regulares, aproveitávamos a vista e a iluminação natural.
Para o departamento criativo, escolhemos persianas horizontais de alumínio com ajuste preciso das aletas, permitindo direcionar a luz sem causar brilho nas telas. Já no auditório, investimos em persianas blackout motorizadas programáveis que se integravam ao sistema de apresentações.
A instalação foi outro capítulo dessa saga. Coordenar a instalação de mais de 200 persianas em um escritório em funcionamento exigiu planejamento quase militar. Dividimos em fases, priorizando as áreas mais críticas. Algumas equipes trabalharam remotamente em dias específicos para liberar espaços.
O maior erro que cometi? Não prever adequadamente o tempo de entrega dos materiais. Alguns tecidos técnicos vieram do exterior e ficaram presos na alfândega por semanas. Tivemos que improvisar com soluções temporárias em algumas áreas – aquelas tenebrosas folhas de papel craft coladas nos vidros que davam ao nosso escritório sofisticado um ar de “estamos em reforma” por mais tempo que gostaríamos.
Outra surpresa foi a necessidade de adaptação da fiação elétrica para as persianas motorizadas. Nosso prédio não estava preparado para isso, e tivemos que abrir paredes e forros para passar novos circuitos. Se soubesse antes, teria incluído isso no projeto inicial de renovação.
As reações após a conclusão da instalação foram reveladoras. Um gerente de projetos comentou que sua equipe estava mais disposta nas tardes ensolaradas – justamente o período em que antes todos queriam fugir daquela ala do escritório devido ao calor e ofuscamento. A recepcionista notou que visitantes frequentemente elogiavam o conforto visual do espaço. E o pessoal do financeiro (sempre eles!) ficou impressionado com a redução nos gastos de energia após alguns meses.
Percebi como as persianas afetavam diferentemente nosso dia a dia conforme as estações. No verão escaldante de BH, as persianas screen salvaram nossa equipe do derretimento literal, reduzindo drasticamente a temperatura nas áreas expostas ao sol da tarde sem precisar ligar o ar-condicionado no máximo. No inverno, podíamos abri-las completamente nas manhãs para aproveitar o calor natural e o ânimo que a luz solar traz.
Uma descoberta curiosa foi como as persianas afetaram a acústica dos ambientes. Espaços que antes tinham eco excessivo ficaram mais controlados com as superfícies de tecido absorvendo parte do som. Salas de reunião com persianas fechadas garantiam maior privacidade sonora – efeito colateral positivo que não havíamos previsto.
Há também algo hipnotizante no movimento suave e silencioso das persianas motorizadas descendo em sincronia nas salas de reunião. Um pequeno luxo que impressiona clientes e cria um momento quase teatral antes de uma apresentação importante. O som suave do mecanismo, aquela transformação gradual da luz… detalhes que agregam sofisticação à experiência.
Depois de alguns meses, percebemos a necessidade de criar protocolos de uso. Algumas pessoas deixavam as persianas totalmente fechadas o dia inteiro, outras totalmente abertas mesmo com sol direto nas telas. Criamos orientações simples por área e horário, e incluímos no treinamento de integração dos novos funcionários. Parece exagero, mas fez diferença na harmonização do ambiente e na vida útil dos equipamentos.
A manutenção foi outro aprendizado importante. Persianas em ambientes corporativos sofrem desgaste muito maior que as residenciais. O vai-e-vem constante, a poeira acumulada, ocasionais acidentes com café… Incluímos no contrato visitas trimestrais para manutenção preventiva, e isso evitou vários problemas que poderiam interromper nossa operação.
Para empresas que estão passando por renovação ou mudança de sede, meu conselho sincero é: não deixem as persianas para última hora como item de decoração. Elas são elementos funcionais que impactam diretamente a produtividade, o bem-estar e até a conta de energia. Vale investir em consultoria especializada e em produtos de qualidade – a diferença se paga rapidamente.
Hoje, olhando nosso escritório com suas persianas perfeitamente integradas à arquitetura e às necessidades de cada espaço, tenho orgulho do resultado. Visitantes frequentemente perguntam sobre nossas escolhas, e já indiquei nossa solução para várias empresas parceiras.
E quem diria que eu, uma executiva focada em resultados e indicadores de desempenho, estaria aqui falando com tanta propriedade sobre coeficientes de sombreamento e tecidos técnicos? A vida corporativa nos leva por caminhos inesperados – às vezes, entre aletas de persianas que transformam completamente a experiência de um grande escritório.