Sempre acreditei que cortinas são mais que tecidos pendurados. São como molduras para o mundo lá fora, filtros de luz que transformam ambientes. Aos 40, depois de adiar por tanto tempo, finalmente decidi renovar as cortinas do meu apartamento em Belo Horizonte. Não fazia ideia de quanto essa decisão mudaria minha relação com os espaços que habito.
Comecei pesquisando na internet, mas logo percebi que precisava ver e tocar os tecidos pessoalmente. E assim começou minha peregrinação pelas lojas de cortinas da capital mineira. Cada estabelecimento, uma descoberta. Cada vendedor, uma história.
Minha primeira parada foi no Centro de BH. Aquelas lojas tradicionais, sabe? Tecidos empilhados até o teto, vendedores que parecem conhecer cada fibra pelo nome. O cheiro de tecido novo misturado com aquele ar de loja antiga… sensação única! O vendedor, seu Antônio, deve ter seus 70 anos e conhecimento de quem viveu a vida inteira entre tramas e urdiduras.
O Desafio de Escolher Entre Tantas Possibilidades
Uai, que dificuldade! Linho, algodão, voil, blackout, translúcidas, opacas… Quanto mais lojas eu visitava, mais confusa ficava. Na região da Savassi, encontrei lojas mais modernas, com catálogos digitais e amostras organizadas. Na Pampulha, ateliês que prometiam exclusividade. No Buritis, opções mais em conta.
Uma vendedora na Avenida do Contorno me disse algo que mudou minha perspectiva: “Não escolha pelo que está na moda, escolha pelo que sua casa pede”. Percebi então que estava pensando errado. Não era sobre seguir tendências, mas sobre entender a personalidade dos meus espaços.
O sol que entra forte pela manhã na sala, aquela brisa da tarde que levanta tecidos leves, a privacidade necessária no quarto que dá para a rua… Cada janela tem sua personalidade própria! E comecei a entender isso visitando uma loja após outra.
Lembro de ter tocado um tecido de linho misto na loja do Barro Preto e instantaneamente me apaixonado pela textura irregular, natural. O movimento dele ao vento parecia contar histórias. Mas aí veio o dilema: será que combinava com a decoração? Será que era prático para o dia a dia?
Levei amostras para casa. Prendi com pregadores nas janelas existentes. Observei como a luz atravessava cada tecido em diferentes horas do dia. O algodão mais encorpado bloqueava demais. O voil deixava passar luz demais. Tirei fotos, mandei para as amigas. Ô indecisão danada!
Das Lojas para Minha Casa: Aprendizados de Uma Estreante
Depois de semanas (sim, semanas!) de pesquisa, finalmente tomei decisões. Para a sala, cortinas de linho em tom areia com forro leve. Para os quartos, um misto de algodão com poliéster em tom cru, com blackout para os momentos de descanso. Para a cozinha, persiana romana em bambu natural.
Mas aí veio a parte que eu não tinha planejado direito: a instalação! Sô, que trabalheira… Primeiro erro: não medi corretamente a altura. Acabei com cortinas roçando no chão na sala. Segundo erro: subestimei a quantidade de tecido necessária para criar as ondulações bonitas que via nas revistas.
O instalador, seu José, foi um anjo da paciência. “Dona, calma que a gente dá um jeito.” E deu mesmo! Ajustou as alturas, ensinou-me sobre os diferentes tipos de trilhos e varões. Explicou que trilho suíço não é luxo, é necessidade para cortinas pesadas. Que as pregas americanas valorizam tecidos estruturados. Que cortinas longas demais juntam poeira, curtas demais parecem que encolheram na lavagem.
As reações quando terminamos a instalação? Minha mãe achou que gastei uma fortuna (e não revelei os valores pra não ouvir sermão). Minha filha adolescente, que antes achava o assunto “cortinas” um tédio, passou a apreciar como o quarto ficou mais aconchegante com as novas peças. Meu marido notou – milagre! – a diferença na acústica da sala, como as vozes não ecoavam tanto.
E como mudou minha rotina! No verão, as cortinas mais leves permitem que a brisa circule enquanto filtram o calor. No inverno, as mais pesadas retêm o calor e criam aquela atmosfera acolhedora que todo mineiro adora. De manhã, é só puxar pra deixar o sol entrar e despertar naturalmente. À noite, fechá-las traz aquela sensação de aconchego, de ninho.
Tem dias que acordo e a primeira coisa que faço é abrir as cortinas e sentir o tecido entre os dedos. Textura que já se tornou familiar. O som suave dos anéis deslizando pelo trilho virou parte da trilha sonora da casa. E aquela luz dourada do fim de tarde que atravessa o linho da sala, criando padrões no piso de madeira? Puro deleite visual!
Os desafios não acabaram com a instalação, claro. Manusear cortinas grandes requer técnica – aprendi da pior forma, com uma que saiu do trilho. Descobri também que aspirar regularmente evita aquela poeira acumulada. E que cortinas de cozinha precisam de lavagem mais frequente.
Fiz amizade com a costureira que ajustou algumas peças. Dona Maria, expert em tecidos e histórias, me ensinou sobre barras, pregas, ilhoses. “Tudo é possível no mundo das cortinas, minha filha”, dizia ela entre alfinetadas precisas.
Se pudesse voltar atrás, teria tirado mais fotos dos ambientes antes de sair comprando. Teria levado amostras maiores para casa. Teria considerado melhor a manutenção de cada tipo de tecido. Mas são aprendizados!
O que mais me surpreendeu nessa jornada foi como as cortinas transformaram ambientes que eu achava que conhecia tão bem. Como se minha casa tivesse ganho uma nova personalidade. Como se cada cômodo agora contasse uma história diferente.
E se você, como eu, está pensando em embarcar nessa aventura pelas lojas de cortinas de BH, meu conselho é: vá com tempo, sem pressa. Sinta os tecidos, observe como reagem à luz. Pergunte, questione, imagine-os em sua casa. As cortinas certas não são necessariamente as mais caras ou as mais bonitas da loja, mas aquelas que parecem ter sido feitas especialmente para suas janelas.
Essa busca pelas cortinas ideais em BH me ensinou mais sobre minha casa e sobre mim mesma do que eu poderia imaginar. E no fim, não são apenas tecidos pendurados… são extensões da nossa forma de ver e sentir o mundo lá fora.