
Quando me mudei para Contagem há três anos, vinda de Belo Horizonte, meu apartamento no bairro Eldorado parecia um cubo de concreto com janelas para o mundo. Amplas, generosas e completamente despidas de qualquer proteção. As primeiras noites foram… interessantes. Acordava com o primeiro raio de sol e sentia como se estivesse dormindo em praça pública – a sensação de exposição era enorme, principalmente considerando que moro no segundo andar com vista direta para o movimento da Avenida João César de Oliveira.
Precisava urgentemente resolver essa situação, e foi assim que mergulhei no universo das cortinas e persianas. Uma jornada que começou como necessidade básica e acabou se transformando em uma verdadeira paixão por transformação de ambientes. Quem diria que algo aparentemente tão simples mudaria tanto minha experiência de morar em Contagem?
A cidade, com seu ritmo acelerado de centro industrial mas com aquele jeitão de interior em certos cantos, tem características bem particulares que influenciaram minhas escolhas. O sol forte que bate sem piedade nas tardes de verão. A poeira característica de uma região com tanto movimento de caminhões e fábricas. E claro, aquela chuva imprevisível que parece surgir do nada e vai embora tão rápido quanto chegou.
Explorando o Comércio Local em Busca do Equilíbrio Perfeito
Minha primeira parada foi no famoso Shopping Contagem, onde algumas lojas de departamento vendiam cortinas prontas. Comprei um par básico para o quarto, daquelas blackout simples, só para conseguir dormir sem ser acordada pelo nascer do sol. Foi uma solução temporária, mas logo percebi que queria algo mais.
Conversando com minha vizinha do 4° andar, uma contagense nata que conhecia cada cantinho da cidade, descobri uma loja no Centro de Contagem que trabalhava com cortinas sob medida. “É um pouco mais caro, mas vale cada centavo”, ela garantiu. No dia seguinte, peguei o ônibus e fui conhecer o local.
A loja era um desses tesouros escondidos que só os moradores locais conhecem. Ficava numa galeria antiga perto da Praça da Glória, e era comandada por Dona Terezinha, uma senhora de cabelos brancos que logo de cara me perguntou se eu era “a moça nova do Eldorado” – aparentemente, minha vizinha já tinha avisado que eu apareceria. Essa conexão quase familiar entre os moradores é algo que ainda me surpreende em Contagem.
Fiquei maravilhada com a quantidade de tecidos disponíveis. Dona Terezinha me explicou pacientemente a diferença entre cada tipo, as vantagens e desvantagens. “Aqui em Contagem você precisa pensar na poeira, minha filha. Tecido muito claro ou muito escuro mostra demais. O meio-termo é sempre melhor.”
Enquanto escolhia os tecidos, um senhor entrou na loja para discutir a instalação de persianas. Fiquei curiosa e comecei a prestar atenção na conversa. Nunca tinha considerado persianas como opção, sempre achei que eram caras demais. Mas o que escutei me fez repensar.
Para minha surpresa, descobri que em Contagem havia um pequeno polo de fabricantes de persianas, muitos deles atendendo as grandes indústrias da região com produtos de qualidade a preços mais acessíveis que em BH. “O pessoal da capital nem sabe o que tá perdendo”, comentou seu José, o instalador que trabalhava com Dona Terezinha há mais de vinte anos.
Da Decisão à Transformação: O Processo de Instalação
Acabei optando por uma combinação que nunca tinha imaginado: persianas horizontais em alumínio para a sala e o home office improvisado, e cortinas de tecido para os quartos e cozinha. A versatilidade dessa combinação me pareceu perfeita para as diferentes necessidades de cada ambiente.
O processo de medição foi meticuloso. Seu José apareceu pontualmente às 8h de um sábado (pontualidade que, confesso, me surpreendeu, acostumada com o famoso “atraso mineiro”). Com fita métrica em mãos e um caderninho surrado, anotou cada milímetro com uma precisão impressionante.
“Aqui em Contagem, a gente tem que ser mais cuidadoso com as medidas por causa da umidade”, explicou ele. “O tempo muda muito rápido, e isso faz os materiais dilatarem de forma diferente.” Fiquei fascinada com esse conhecimento tão específico, tão local – algo que certamente não encontraria em nenhum tutorial do YouTube.
A instalação aconteceu duas semanas depois. As persianas vieram de uma pequena fábrica no bairro Industrial, e as cortinas foram confeccionadas pela filha de Dona Terezinha, que seguiu os passos da mãe no negócio familiar. Seu José e um ajudante trabalharam o dia inteiro, parando apenas para um almoço rápido que fiz questão de oferecer – arroz, feijão tropeiro e uma linguiça caseira que comprei na feira livre do Eldorado.
Durante o trabalho, seu José compartilhou histórias sobre como Contagem mudou ao longo dos anos. “Quando comecei a instalar cortinas por aqui, esse bairro nem existia direito. Era tudo mato e algumas fábricas.” Essas conversas me conectaram ainda mais com a cidade que havia escolhido para viver.
O Impacto na Vida Diária: Mais que Decoração, uma Revolução
Os primeiros dias com as novas cortinas e persianas foram de redescoberta do meu próprio espaço. A sala, com as persianas horizontais em tom champagne, ganhou uma elegância que nunca imaginei possível. A maneira como a luz atravessava as lâminas criava padrões interessantes no piso durante diferentes horas do dia. Era quase uma obra de arte em constante mutação.
Nos quartos, as cortinas duplas – uma camada de voil leve e outra de blackout – transformaram completamente a qualidade do meu sono. Finalmente podia escolher entre acordar naturalmente com um pouquinho de luz filtrada ou criar aquela escuridão completa para dormir até mais tarde nos domingos.
O impacto no conforto térmico foi talvez a maior surpresa. Contagem tem aquele calor característico da região metropolitana de BH, intensificado pelo asfalto e concreto. Antes das cortinas e persianas, meu apartamento parecia uma estufa nas tardes de verão. A diferença foi impressionante – a temperatura interna caiu sensivelmente, e o ar-condicionado, que antes trabalhava sem parar, agora dava conta do recado com muito menos esforço.
As Reações, Aprendizados e Descobertas Inesperadas
A primeira visita que recebi depois da transformação foi de minha mãe, que veio de Sete Lagoas passar um fim de semana. “Nossa, filha, nem parece o mesmo apartamento!” foi a primeira coisa que ela disse ao entrar. Logo ela estava examinando cada detalhe, tocando os tecidos, experimentando abrir e fechar as persianas como uma criança com brinquedo novo.
Logo virei referência entre os vizinhos. A síndica do prédio, depois de tomar um café na minha sala, pediu o contato da Dona Terezinha. Em menos de um mês, pelo menos três outros apartamentos no prédio tinham seguido pelo mesmo caminho. Formou-se quase um fã-clube de cortinas e persianas no condomínio.
A manutenção foi outro aprendizado importante. A poeira de Contagem é diferente – mais fina, mais persistente, resultado da combinação entre as indústrias e o clima da região. Descobri que passar o aspirador nas persianas semanalmente fazia toda diferença na durabilidade. Para as cortinas, desenvolvemos com Dona Terezinha um esquema de lavagem trimestral, com direito a tratamento especial contra ácaros.
O som também mudou completamente. Moro relativamente perto da Via Expressa, e o barulho dos caminhões costumava ser uma trilha sonora constante. As cortinas, principalmente as mais pesadas do quarto, absorviam parte considerável desse ruído. Foi como ganhar um par de protetores auriculares para o apartamento inteiro.
As estações em Contagem, sempre tão marcadas, passaram a dialogar de forma diferente com meu espaço. No inverno, que pode ser surpreendentemente frio nessa região, as cortinas mais pesadas ajudavam a manter o calor dentro de casa. Já na primavera, quando as tempestades surgem do nada (típico de Minas!), as persianas me permitiam fechar rapidamente as janelas enquanto ainda observava a chuva cair lá fora.
Uma descoberta curiosa foi como as cortinas e persianas alteraram meu próprio comportamento dentro de casa. Antes, evitava ficar na sala durante as tardes de sol forte. Agora, com o controle de luminosidade, esse cômodo se tornou meu favorito para trabalhar, ler ou simplesmente relaxar em qualquer hora do dia. O home office, com as persianas ajustáveis, virou um espaço muito mais produtivo – bastava regular a entrada de luz de acordo com a necessidade do momento.
Meus amigos de BH, que inicialmente torceram o nariz quando anunciei minha mudança para Contagem, agora faziam questão de vir me visitar. “Nossa, mas aqui é muito gostoso”, comentou uma amiga que sempre se gabava de morar na Savassi. O apartamento, com sua nova personalidade definida em grande parte pelas cortinas e persianas, virou ponto de encontro para reuniões e pequenas comemorações.
Até mesmo meu gato, um persa exigente que veio comigo na mudança, mudou seus hábitos. Antes, ele se escondia em cantos escuros durante o dia. Agora, com a luz controlada, passou a aproveitar os raios de sol filtrados pela persiana da sala, deitando-se preguiçosamente naqueles riscos de luz que se formavam no sofá.
A relação com meus vizinhos também se transformou. Como as persianas me permitiam controlar a visibilidade sem sacrificar a ventilação, passei a deixar as janelas abertas mais frequentemente. Isso criou uma conexão inusitada com o prédio em frente – trocas de sorrisos, acenos de bom dia. Formou-se uma espécie de comunidade silenciosa, de reconhecimento mútuo, algo que nunca experimentei quando morava no anonimato de um apartamento no centro de BH.
Com o tempo, fui ajustando pequenos detalhes. Troquei os cordões das persianas da sala por controles mais modernos, que eliminavam o risco de enrosco. Acrescentei faixas decorativas nas cortinas da cozinha, inspiradas em um tecido típico que descobri numa feira de artesanato local no bairro Amazonas.
Hoje, depois de três anos, minhas cortinas e persianas já são parte inseparável da minha história em Contagem. Algumas já precisaram de pequenos reparos, outras permanecem como novas. Seu José ainda aparece ocasionalmente para manutenções, e sempre recusa o café que ofereço antes do serviço (“Café só depois do trabalho, minha jovem”), mas aceita prontamente depois que termina.
Se você está se estabelecendo em Contagem ou considerando uma renovação no visual da sua casa, não subestime o poder transformador de cortinas e persianas bem escolhidas. Nessa cidade onde indústria e aconchego convivem lado a lado, onde o tempo muda várias vezes no mesmo dia, ter o controle sobre a luz e a privacidade do seu espaço faz toda diferença.
E se precisar de recomendações, a loja da Dona Terezinha continua lá, resistindo bravamente à invasão das grandes redes. Como ela mesma diz, com aquele sotaque mineiro inconfundível: “Cortina não é só pra tapar janela, é pra criar lar.” E nesse pedacinho de Minas chamado Contagem, aprendi que ela não poderia estar mais certa.