
Aquele apartamento da Savassi… Janelas enormes, luz por todos os lados. Quando me mudei, achei um luxo. Até perceber que precisava resolver o problema da privacidade e do sol que transformava minha sala em uma sauna às três da tarde. Nunca imaginei que escolher cortinas seria uma jornada tão pessoal.
Comecei como todo mundo — indo às lojas da Avenida do Contorno ver o que tinha disponível. Minha primeira ida foi um desastre. Saí mais confusa do que entrei. Blackout, rolô, romana, painel… cada vendedor falava uma coisa diferente. “Pra sala com essa exposição, tem que ser persiana”, dizia um. “Que nada, cortina de linho resolve e fica mais charmoso”, argumentava outro.
Voltei pra casa e fiz o que qualquer pessoa perdida faria: pedi socorro à minha amiga Fernanda, que é arquiteta. Ela riu da minha situação. “Todo mundo passa por isso”, disse. E me levou para conhecer uma loja pequena, quase escondida numa galeria da Rua Pernambuco.
O Dilema da Escolha: Quando o Excesso de Opções Vira Problema
Naquela lojinha foi que começou minha verdadeira jornada. A dona, Dona Cida — uma senhora que trabalha com cortinas há mais de 30 anos — me perguntou coisas que ninguém tinha perguntado antes. Como eu uso cada cômodo? Em que horário? Que sensação eu queria ter ao entrar em casa depois de um dia cansativo?
Foi aí que percebi: não era só sobre bloquear a luz. Era sobre criar um ambiente, uma atmosfera. E isso mudou tudo.
Pro quarto, acabei escolhendo uma combinação que na época achei exagerada: cortina blackout com sobreposição de voil. Aquele tecido leve, quase translúcido, dançando com a brisa quando abro a janela de manhã… Não tem preço. E o blackout por trás garantindo que nem um fiozinho de luz da rua entre durante a noite.
Minha irmã achou um absurdo. “Pra que tanto pano?” Mas na primeira vez que dormiu em casa depois da instalação, entendeu tudo. “Nunca dormi tão bem”, confessou no café da manhã.
Já na sala… Ah, a sala foi outro desafio. As janelas dão pro poente e o sol da tarde mineira não brinca em serviço. Depois de muito pensar, fui de persianas horizontais em alumínio. Posso regular a entrada de luz sem perder a vista do Parque Municipal. Quando bate aquele sol alaranjado de fim de tarde, regulo as lâminas pra criar um jogo de luz e sombra na parede que é quase uma obra de arte.
Uma coisa que aprendi na prática: instalação não é pra amador. Tentei economizar no banheiro e pedi pro meu primo, que “entende dessas coisas”, instalar uma persiana pequena. Resultado? Dois furos errados na parede, um cano quase perfurado e, no fim, tive que chamar profissional mesmo.
O profissional que contratei fez em meia hora o que tentamos fazer em uma tarde inteira. E ainda me ensinou que, pro banheiro, persiana de PVC é melhor que tecido por causa da umidade. Detalhe que ninguém tinha me falado antes!
As Estações da Mineira e o Balé das Cortinas
O verdadeiro teste veio com as mudanças de estação. No inverno de BH — que não é tão rigoroso, mas tem aquele friozinho gostoso — as cortinas duplas do quarto viraram minhas melhores amigas. Deixo o blackout fechado mais tempo e a casa fica quentinha por mais horas.
Já no verão… Sô, aí é que tá o pulo do gato! De manhãzinha já abro tudo pra ventilar, depois vou fechando estrategicamente conforme o sol caminha. Descobri que a persiana da sala, se regulada na inclinação certa, deixa entrar a luz sem o calor. Foi um aprendizado na base da tentativa e erro.
O que ninguém me contou é como as cortinas mudam a acústica da casa. Meu apartamento ficou mais aconchegante, a voz não ecoa mais como antes. Quando recebo visitas, todo mundo comenta como o ambiente é acolhedor. Pouca gente percebe que boa parte dessa sensação vem das cortinas.
Também não esperava como os tecidos interagem com os outros sentidos. O voil do quarto, quando a janela está aberta, faz um barulhinho suave que virou parte da trilha sonora do meu despertar. E as cordas da persiana da sala têm uma textura áspera que, por algum motivo estranho, adoro sentir entre os dedos quando estou pensativa olhando pela janela.
E assim vou vivendo, entre sombras e luzes que aprendi a controlar. Às vezes me pego ajustando as persianas sem necessidade, só pelo prazer de moldar a luz que entra. Minha mãe diz que virei “a louca das cortinas” — e talvez ela tenha razão.
Mas quem não se apaixonaria por esse poder de transformar a casa com um simples puxar de cordão? De manhã, quando o sol nasce atrás do prédio vizinho e filtra pelos tecidos do meu quarto, criando padrões dourados no chão, sei que fiz as escolhas certas. Nessas horas, penso que entender de cortinas e persianas é como entender um pouco mais sobre o conforto, sobre fazer de um apartamento um lar.
E se você passar pela Savassi e ver uma mulher grudada nas vitrines das lojas de decoração, observando tecidos e mecanismos com interesse obsessivo… sou eu, planejando minha próxima “vítima”. O escritório está precisando de uma mudança, e já estou de olho naquelas persianas automatizadas. Mas isso é assunto pra outro dia.