Como Saber o Tamanho da Cortina: Uma Jornada Pessoal
O sol de final de tarde invadia minha sala sem cerimônia, esquentando o sofá e desbotando lentamente meus livros preferidos. Era o sinal. Depois de cinco anos morando no mesmo apartamento, não dava mais para adiar: precisava de cortinas novas. As antigas, herança da antiga moradora, já não cumpriam seu papel. Cortinas… quem diria que algo aparentemente tão simples se transformaria numa saga digna de um reality show de decoração.

Sempre me considerei razoavelmente competente em questões práticas do lar. Troco resistência de chuveiro, monto móveis seguindo manuais, até já troquei uma torneira com a ajuda de tutoriais online. Mas cortinas? Aquilo era território inexplorado, um desafio que começava com uma pergunta básica: como diabos se mede uma cortina?
Quando comentei com minha mãe sobre meu projeto, ela soltou aquela risada que só as mães conseguem – aquela que diz “você vai sofrer, mas não vou impedir”. Ela estava certa. Meu primeiro erro foi achar que bastava medir a largura da janela e pronto. Ingenuidade pura.
Descobrindo a Matemática Secreta das Cortinas
Comecei minha pesquisa online, e foi como cair num buraco de coelho. Tinha que considerar a largura da janela, a altura do teto, o tipo de trilho ou varão, o caimento que eu queria… Descobri que existia uma coisa chamada “multiplicador de franzido” – um conceito que nunca tinha passado pela minha cabeça.
A vendedora da loja especializada me olhou com uma mistura de compaixão e divertimento quando perguntei, com a segurança de quem não sabe o que está falando, se precisava de cortinas de 1,40m para minha janela de 1,40m.
“Querida, você quer uma cortina ou um lençol esticado na sua janela?”
Foi o início da minha reeducação. Aprendi que para ter aquele caimento elegante e volumoso, a largura da cortina deveria ser pelo menos o dobro da largura da janela. Três vezes, se eu quisesse um visual mais sofisticado. Números, cálculos, metragens… virei uma matemática das cortinas.
Voltei para casa e refiz as medidas, desta vez com método e precisão quase científica. Altura: medi do varão até onde queria que a cortina terminasse, somando 20 centímetros para a parte que ficaria sobre o varão. Largura: medi a largura do varão e multipliquei por 2,5. Anotei tudo num caderninho, como se fossem fórmulas secretas.
Na manhã seguinte, acordei com uma epifania no meio da noite: e se eu tivesse medido errado? Pulei da cama e fui conferir. Tinha esquecido de considerar o espaço dos finais! Aqueles pedacinhos da cortina que ficam nas pontas quando ela está aberta. Mais 15 centímetros de cada lado, pelo menos.
Pedro, meu namorado, me encontrou ajoelhada no chão com fita métrica, calculadora e cara de desespero. Limitou-se a dizer: “Não era mais fácil chamar alguém?”
Claro que não. Era questão de honra agora.
A Revolução de Tecidos e Texturas
Com as medidas finalmente anotadas (e conferidas três vezes), veio a segunda fase: escolher o tecido. Outra dimensão de complexidade que eu não fazia ideia que existia.
Entrei na loja de tecidos como quem entra num mundo paralelo. Voil, jacquard, linho, algodão, blackout… cada um com propriedades diferentes. Passei horas – literalmente horas – passando a mão nos tecidos, observando como a luz passava (ou não) por eles, imaginando como ficaria na minha sala.
Minha amiga Renata, decoradora autodidata, me acompanhou nessa expedição e foi crucial. “Pensa na funcionalidade primeiro, depois na estética,” me aconselhou enquanto eu me encantava com um tecido lindo, mas completamente inadequado para o que eu precisava.
Acabei optando por um blackout bege para o quarto – depois de noites perdidas com a luz do poste invadindo meu sono, não tinha mais paciência para romantismos – e um voil mesclado para a sala, que filtrava a luz sem escurecer completamente o ambiente.
O momento da compra foi quase solene. Senti uma mistura de orgulho e terror. E se depois de todo esse trabalho não ficasse bom? E se minhas medidas estivessem erradas? Mas não tinha volta.
A instalação foi outro capítulo dessa novela. Descobri que meu teto de gesso não aceitava bem os suportes convencionais. Tive que adaptar, improvisar, quase chorar… mas instalei! Com a ajuda de Pedro – que depois de me ver lutando com a furadeira finalmente se compadeceu – conseguimos pendurar as cortinas.
O resultado? Um misto de satisfação e pequenos detalhes que só eu percebo. A cortina da sala ficou um pouquinho mais curta do que eu planejava – culpa minha, que não considerei o encolhimento do tecido depois de lavado. Mas quando a luz do fim da tarde passa por ela, criando uma atmosfera dourada na sala, percebo que valeu cada momento de estresse.
No quarto, o blackout foi uma revolução na minha qualidade de sono. Como não pensei nisso antes? Acordo mais descansada, o que compensa todos os palavrões ditos durante a instalação.
O que aprendi nessa jornada? Que saber o tamanho da cortina vai muito além de medir uma janela. É entender como um tecido se comporta, como a luz interage com ele, como pequenos detalhes técnicos fazem toda diferença no resultado final.
Minha mãe, quando veio visitar e viu o resultado, sorriu daquele jeito que só mães conseguem – um misto de orgulho e “eu te avisei que não era tão simples”. Mas depois admitiu que tinha ficado bonito. Vindo dela, isso é quase um certificado de excelência.
Se você está prestes a embarcar nessa jornada, meu conselho é: meça três vezes, compre uma, e tenha paciência. Ah, e prepare-se para virar uma pessoa chata que repara em cortinas de outras casas, restaurantes e hotéis. É um efeito colateral inevitável.
Agora, quando o sol de fim de tarde bate na minha cortina e cria aquele jogo de sombras na parede, sinto um prazer quase bobo. São as pequenas vitórias domésticas que ninguém entende a não ser que tenha passado pelo mesmo. E à noite, quando fecho meu blackout e mergulho numa escuridão reconfortante, agradeço mentalmente por ter persistido.
As cortinas mudaram minha casa – não apenas pela estética, mas pela maneira como interajo com os espaços. Quem diria que um simples pedaço de tecido pendurado teria tanto poder?