
Nunca imaginei que a escolha de um tecido pra janela pudesse mudar tanto a minha relação com os ambientes da casa. Mas foi exatamente isso que aconteceu quando finalmente decidi dar um basta naquelas cortinas desbotadas que vinham com o apartamento quando me mudei pra Anchieta.
Moro num prédio com vista parcial pro mar — dizem os corretores, né? Na verdade, se eu me esticar bem na varanda da sala e olhar pro lado, consigo ver um pedacinho de azul entre dois edifícios. Mas o que importa mesmo é a claridade que entra pela manhã, principalmente no verão, quando o sol nasce bem cedo e parece determinado a me acordar antes do despertador.
Foi depois de mais um domingo de enxaqueca por excesso de luz que resolvi: chega de improvisação. Ia investir em soluções de verdade. E foi aí que começou minha jornada pelo mundo das cortinas e persianas na região da Anchieta.
Entre tecidos e mecanismos: a descoberta de um universo à parte
O que eu achava que seria uma compra simples — “uma cortina blackout pro quarto, uma persiana pra sala e pronto” — se revelou uma verdadeira imersão num universo que eu nem sabia que existia. Lá estava eu, numa tarde de sábado, cercada por amostras de tecidos, catálogos intermináveis e uma vendedora muito paciente tentando me explicar a diferença entre blackout e double face, entre persiana rolô e romana.
“Quero algo que bloqueie bem a luz no quarto, sabe? De manhã é um inferno”, expliquei.
A moça sorriu como quem já ouviu essa frase mil vezes. “E quanto ao som da rua? Também incomoda?”
Nem tinha pensado nisso! Mas era verdade. O ponto de ônibus embaixo da janela do quarto era um problema, principalmente nos horários de pico. E foi assim que descobri que algumas cortinas têm propriedades acústicas. Quem diria?
Saí da loja com a cabeça rodando de informações e amostras de tecido na bolsa. Voltei pra casa e passei o fim de semana inteiro encostando retalhos na janela em diferentes horários do dia, observando como as cores mudavam com a luz natural.
As escolhas, instalação e lições que ninguém me contou
Depois de duas semanas (sim, demorei tudo isso) tomei minhas decisões: cortina rolô blackout no quarto, persiana horizontal de madeira na sala e cortinas de linho leve no escritório. A decisão mais difícil foi a da sala — fiquei dividida entre o visual sofisticado da persiana de madeira e a praticidade da rolô. No fim, o coração falou mais alto. Sempre fui apaixonada por madeira natural.
Quando o instalador chegou, percebi meu primeiro erro: não tinha medido a profundidade do batente da janela. Resultado? A persiana da sala ficou ligeiramente mais saliente do que eu gostaria. Nada grave, mas um detalhe que me incomoda até hoje quando olho com atenção.
A instalação no quarto foi outro aprendizado. O cara montou tudo, testou, funcionava perfeitamente. Aí chegou a noite e… surpresa! Havia frestas laterais por onde a luz dos postes entrava, formando duas linhas luminosas irritantes na parede. Tive que improvisar com fita isolante preta por algumas semanas até encontrar uma solução definitiva.
Minha mãe, quando veio me visitar depois da transformação, franziu a testa ao ver a persiana de madeira.
“Mas filha, isso junta um pó danado. Vai limpar como?”
Não tinha pensado nisso também. E ela estava certa — a limpeza das persianas de madeira é trabalhosa. Aprendi a passar o aspirador com a escova de estofados uma vez por semana, senão vira um desastre.
Já meu irmão, arquiteto metido a bambambã, criticou a escolha do linho no escritório. “Vai deformar logo”, alertou. Por sorte, ele estava errado. Quase um ano depois e o tecido continua caindo perfeitamente — desde que eu mantenha as cordas sempre bem alinhadas.
Com o tempo, fui percebendo como minha rotina mudou sutilmente. No verão, desenvolvi o hábito de ajustar as persianas da sala no meio da tarde, quando o sol bate diretamente na varanda e esquenta tudo. Descobri o ângulo perfeito para manter a ventilação sem deixar a luz direta entrar — um pequeno prazer diário que nunca imaginei que teria.
No inverno, faço o oposto: abro tudo logo cedo para aproveitar cada raio de sol e aquecer naturalmente o ambiente. É quase um ritual matinal agora, esse jogo com a luz.
O que mais me surpreendeu foi como o som mudou. O quarto, com a cortina blackout dupla, ficou significativamente mais silencioso. Consigo dormir até mais tarde nos fins de semana, mesmo com o movimento da rua lá embaixo.
E tem os pequenos detalhes sensoriais que ninguém menciona quando você está comprando. O som suave da persiana de madeira quando balança com a brisa da janela aberta. A textura do linho contra os dedos quando ajusto a cortina do escritório. A dança das partículas de poeira reveladas pelo sol quando entra pelas frestas controladas da sala.
São essas pequenas transformações no cotidiano que fazem toda diferença. Meu apartamento continua o mesmo, mas minha relação com ele mudou completamente. Os ambientes ganharam personalidade, conforto térmico e acústico.
Se pudesse voltar atrás, teria pesquisado mais sobre instalação antes de contratar o serviço. Teria medido melhor os espaços. Talvez tivesse escolhido um modelo diferente para a sala, algo que permitisse controlar melhor a incidência de luz sem comprometer a vista (ainda que mínima) para o mar.
Mas são aprendizados. E a verdade é que hoje, quando chego em casa depois de um dia cansativo no trabalho, sinto um prazer especial em ajustar as cortinas e persianas para o modo “aconchego noturno”, como apelidei. É como se o simples gesto de fechar uma cortina fosse o sinal físico de que o dia terminou e agora é hora de relaxar, no meu cantinho, protegida do mundo lá fora.
As cortinas e persianas na Anchieta não são apenas peças funcionais — são elementos que transformam a luz, o som e o clima dos ambientes. E, de quebra, transformaram também minha relação com cada canto dessa casa.