A Odisseia das Persianas: Como Transformei um Pesadelo em Aprendizado nas Terras Mineiras
Nunca imaginei que chegaria aos 40 anos preocupada com persianas. Sério mesmo. A vida adulta é cheia dessas surpresas, né? Você acha que vai estar pensando em viagens internacionais ou em como investir seu dinheiro, mas não… está ali, observando uma persiana quebrada e pensando em como resolver esse pequeno grande problema do cotidiano.
Foi numa terça-feira qualquer, daquelas manhãs mineiras em que o sol nasce desafiando as montanhas. Acordei com aquela claridade indecente invadindo meu quarto porque, mais uma vez, a persiana tinha emperrado na posição semiaberta. Respirei fundo, contei até dez e decidi: hoje resolvo isso de uma vez por todas!
Morar em Belo Horizonte tem suas particularidades. O clima que muda em questão de horas, a poeira vermelha que se infiltra por todo canto e, claro, a umidade que parece conspirar contra qualquer mecanismo. Minhas persianas sofriam com tudo isso há anos, mas eu sempre adiava o inevitável conserto.
E assim começou minha jornada pelos caminhos do conserto de persianas na capital mineira.
O Desafio de Encontrar Quem Entenda do Assunto
Primeira lição: nem todo mundo que diz entender de persianas realmente entende. Comecei perguntando para o porteiro do meu prédio, seu Antônio, que sempre tem uma indicação pra tudo. “Conheço um rapaz que mexe com isso, dona. É bão demais da conta!” A confiança do seu Antônio me convenceu.
O tal rapaz apareceu no dia seguinte. Olhou para minha persiana com aquela expressão que só os técnicos sabem fazer – uma mistura de contemplação e julgamento silencioso pelas suas escolhas de vida. “Essa aqui tá ruim, viu? Vai precisar trocar tudo.” Fiquei em choque. Trocar tudo? Meu apartamento tem cinco janelas com persianas!
Não me convenci. Algo me dizia que poderia haver outra solução. Afinal, eram persianas de qualidade que vieram com o apartamento quando o comprei, há oito anos. Agradeci, paguei a visita técnica e decidi buscar uma segunda opinião.
Foi aí que descobri os grupos de Facebook específicos para moradores de BH. Que mundo! Postei minha dúvida e em menos de uma hora recebi mais de 15 comentários com indicações. Uma senhora em particular, Dona Márcia, comentou: “Minha filha, vá na loja do seu Jorge na Savassi. Ele conserta minhas persianas há 20 anos. Não troca nada se não precisar.”
O caminho até a loja do seu Jorge foi uma aventura por si só. Uma dessas lojinhas escondidas num sobrado antigo, sem placa chamativa, daquelas que só sobrevive pelo boca a boca. Quando entrei, tive certeza: estava no lugar certo. Persianas de todos os tipos penduradas, peças espalhadas em mesas de trabalho e um senhor de uns 70 anos com óculos de grau na ponta do nariz.
As Descobertas e Aprendizados no Caminho
“O problema provavelmente está no cordão e talvez nas roldanas”, disse seu Jorge depois que expliquei a situação. “Posso ir lá ver, mas já te adianto que é conserto simples. Esse modelo que você tem é bom, dura uma vida se bem cuidado.”
Quando seu Jorge foi ao meu apartamento, foi como assistir a um mestre trabalhando. Suas mãos, marcadas pelo tempo e pelo trabalho, desmontaram com delicadeza o mecanismo da persiana. “Tá vendo isso aqui? É o pó que gruda na graxa e forma uma pasta que trava tudo.” Ele limpou cada peça com paciência, trocou os cordões e ajustou as lâminas uma por uma.
O som da persiana subindo e descendo suavemente depois do conserto foi quase como música. A luz do final da tarde filtrada pelas lâminas recém-ajustadas criou um jogo de sombras na parede que nunca tinha notado antes. Foi quase poético.
Meu filho adolescente, que geralmente não nota nada além da tela do celular, comentou durante o jantar: “Mãe, que diferença na sala, ficou mais… sei lá, aconchegante?” Aquilo valeu todo o esforço.
O inverno em BH é outro desafio. As manhãs geladas fazem você querer manter as persianas fechadas para preservar o calor, mas aí perde a luz natural. Depois do conserto, consegui ajustar as lâminas em ângulos diferentes dependendo da necessidade do momento, algo que nunca funcionou direito antes.
Seu Jorge me ensinou alguns truques para a manutenção. “Passa um paninho com álcool nas correntes e nas roldanas de vez em quando. E nada de força, minha senhora, persiana pede é jeito, não força.” Sábias palavras que se aplicam a tantas coisas na vida, né?
No verão, a diferença foi ainda mais notável. A sala, que costumava ficar insuportavelmente quente nas tardes de janeiro, agora permanecia arejada e com iluminação controlada. As persianas bem reguladas permitiam que a brisa entrasse sem que o sol castigasse os móveis e o piso.
Minha amiga Regina veio tomar um café numa dessas tardes e notou a diferença imediatamente. “Menina, que gostoso que tá aqui! Dá até vontade de tirar um cochilo nesse sofá.” Confessei a ela todo meu drama com as persianas e ela riu. “Só você mesmo para transformar conserto de persiana em uma saga épica!”
Talvez seja verdade. Talvez eu dramatize as pequenas coisas da vida. Mas não são essas pequenas coisas que, no final das contas, fazem toda a diferença no nosso bem-estar cotidiano?
Hoje, quase um ano depois da minha odisseia, olho para minhas janelas com um certo orgulho. Cada vez que as persianas sobem e descem sem fazer aquele barulho irritante de antes, cada manhã em que posso escolher exatamente quanta luz quero deixar entrar, me sinto um pouquinho vitoriosa.
E quando alguma amiga comenta sobre problemas com persianas (o que acontece com mais frequência do que você imagina), tenho o cartão do seu Jorge guardado na carteira. Viro uma espécie de embaixadora não-oficial do conserto de persianas em BH. “Não troca não, menina. Conserta! E eu sei exatamente com quem…”
A textura das cordas novas nas mãos, o clique suave do mecanismo funcionando corretamente, a dança da luz entre as lâminas limpas… São pequenos prazeres que só quem passou pelo purgatório das persianas quebradas pode realmente apreciar.
E se você, como eu, está enfrentando esse desafio em terras mineiras, vai uma dica: nem sempre o problema é tão grande quanto parece. Às vezes, é só questão de encontrar a pessoa certa, com o conhecimento certo e, principalmente, com o respeito certo pelo seu tempo e pelo seu lar.
Ah, e não esqueça: persiana pede é jeito, não força. Palavras para viver.