Era uma tarde de domingo. Aquele sol impiedoso de verão entrava pela minha janela sem nenhuma barreira, tornando a sala um verdadeiro forno. Foi ali, derretendo no meu sofá enquanto tentava ler um livro, que tomei a decisão: precisava de cortinas. Mas não queria qualquer cortina — queria algo que filtrasse a luz sem bloquear completamente, que desse privacidade sem transformar o ambiente numa caverna.
E assim começou minha jornada com as cortinas de renda.
Cresci numa casa onde minha avó tinha orgulho das suas rendas artesanais. Talvez por isso sempre tive essa queda por tecidos delicados, com texturas que contam histórias. Quando criança, adorava observar os padrões que a luz formava ao atravessar as rendas da casa dela… era quase mágico.
Caçadora de rendas: a busca pela cortina perfeita
Minha primeira parada foi um shopping de decoração aqui da zona oeste. Meu Deus, que lugar intimidador! Um milhão de opções, vendedores te olhando como se você fosse uma carteira ambulante, e eu ali — completamente perdida.
“A senhora gostaria de algo mais estruturado? Temos blackouts com aplicações em renda”, perguntou uma vendedora.
Não, não queria blackout. Queria RENDA. Só renda. Aquela coisa delicada, etérea. Saí do shopping de mãos vazias e com a sensação de que estava procurando algo antiquado.
Foi numa loja pequena de um bairro tradicional que encontrei o que buscava. A proprietária, uma senhora de uns 60 anos, não só tinha um acervo incrível de rendas como entendia exatamente o que eu queria.
“Você não quer simplesmente uma cortina, quer uma companheira para sua sala”, ela disse, acertando em cheio.
Acabei levando uma renda portuguesa com motivos florais delicados. Não era a mais barata, longe disso, mas era aquela que fez meu coração bater mais forte quando a vi pendurada na vitrine.
O grande dia: instalação e primeiras impressões
Instalar aquela belezura foi… bem, digamos que descobri uma nova vocação pra me estressar. Eu, uma pessoa que mal consegue pendurar um quadro, tentando lidar com trilhos, ganchinhos e uma escada que parecia ter vida própria.
Primeiro erro: subestimar a quantidade de tecido. Minha janela não é particularmente grande, mas renda precisa de caimento, precisa de folga. Acabei tendo que voltar à loja para comprar mais metros.
Segundo erro: achar que conseguiria fazer aqueles drapeados elegantes de primeira. A realidade? Minha primeira tentativa ficou parecendo que um furacão tinha passado pela cortina.
Quando finalmente consegui instalar tudo — com a ajuda de um vizinho que provavelmente ficou com pena do meu desespero — a transformação foi instantânea. A sala ganhou outra dimensão. A luz atravessava o tecido criando desenhos no chão e nas paredes, como se alguém tivesse instalado um projetor de padrões delicados.
Minha mãe, quando veio me visitar, ficou em silêncio por um momento.
“Parece a casa da vovó”, ela disse finalmente, com os olhos marejados. Não precisava de elogio melhor.
Aos poucos, fui percebendo como aquelas cortinas afetavam minha rotina. No verão, elas filtram o sol sem bloquear a brisa — desde que as janelas estejam abertas, claro. No inverno, mesmo com aquele sol mais fraco, os padrões que se formam têm uma qualidade diferente, mais suave, quase nostálgica.
Tem algo no movimento da renda com o vento que me acalma. Às vezes me pego parada, só observando o balanço suave quando passa uma corrente de ar. É quase meditativo.
E o som! Nunca imaginei que cortinas pudessem ter som. Mas têm — aquele farfalhar delicado quando o vento passa, tão sutil que às vezes acho que estou imaginando.
Lições aprendidas e dicas práticas
Se alguém me perguntasse hoje o que aprendi nessa jornada, acho que teria bastante coisa pra falar:
Renda exige cuidados especiais na limpeza. Aprendi isso da pior forma possível quando tentei lavar a minha no tanque, como se fosse um lençol qualquer. O tecido é delicado, gente! Agora levo pra lavar a seco ou faço uma limpeza super cuidadosa em casa.
A altura importa MUITO. Instalei inicialmente minha cortina rente ao batente da janela e ficou horrível. Depois descobri que pendurar mais alto dá sensação de teto mais alto e janela maior. Melhorou 100%!
Invista em bons trilhos e ganchos. Sério. Economizei nisso no início e me arrependi amargamente quando a cortina despencou no meio da noite, me dando um susto dos diabos.
Quanto à manutenção diária, descobri que um aspirador de pó com escova macia, passado gentilmente, faz milagres. A poeira adora se acumular nas rendas.
As reações das pessoas quando entram na minha sala pela primeira vez sempre me divertem. Algumas acham romântico demais (meu irmão disse que parecia cenário de novela das seis), outras ficam encantadas com o jogo de luz. Minha sobrinha de 5 anos acha que é a cortina de uma princesa.
Engraçado como algo aparentemente simples — um pedaço de tecido pendurado — pode mudar tanto não só o ambiente, mas nossa relação com ele. Minhas manhãs agora têm esse ritual: abrir as janelas, observar por alguns segundos os padrões de luz que se formam, e sentir que o dia começou bem.
Às vezes me pergunto o que minha avó acharia. Acho que ela aprovaria, talvez fizesse alguns ajustes no caimento ou sugerisse algum detalhe, mas no fundo, acho que ela entenderia exatamente o que eu quis fazer: trazer um pouquinho daquela magia da infância, daquela delicadeza que parece cada vez mais rara nos dias de hoje, para dentro da minha casa.
E não é disso que se trata decorar, no fim das contas? De criar espaços que nos abracem, que contem nossas histórias, que tragam à tona nossas melhores memórias?
Por isso, mesmo com todos os perrengues de instalação, mesmo com a manutenção extra que exige, não troco minhas cortinas de renda por nada. Elas já são parte da identidade da minha casa — e, de alguma forma, também da minha.